Ruiz, Erasmo, Freud no divã do cárcere: Gramsci analisa a psicanálise; Campinas: Autores Associados, 1998, 112

A riqueza do pensamento de Gramsci permite apreendê-lo das mais variadas formas. Dependendo da perspectiva teórica de cada autor podemos surpreender um Gramsci filósofo, outras vezes político ou jornalista. Já alguns comentaristas fazem um vôo tão alto que quase vêem nele um santo socialista martirizado pelo fascismo. Minhas leituras foram carregadas pelo olhar de um psicólogo social preocupado em entender a inter-relação indivíduo, trabalho e sociedade no processo de construção da subjetividade. Antes que alguém se assuste, não tenho a pretensão de acrescentar o rótulo de psicólogo à já extensa lista de rotulações do marxista italiano mas, ainda assim, atrevo-me a discutir como algumas idéias gramsciniana parecem esboçar uma compreensão psicossocial do homem, principalmente quanto à psicanálise deita-se sobre o divã do cárcere, através da crítica despretensiosa de Gramsci (ele mesmo assim o admite). Psicólogos podem encontrar aqui uma visão que intenta historicizar a Psicanálise e a individualidade confrontando uma tendência, no meu ponto de vista, dominante na Psicologia, que constrói uma noção de individualidade restrita a ela mesma. Já os sociólogos encontrarão uma noção de indivíduo que, mesmo enfatizando sua necessária particularidade, não rompe com a História ou com a sociedade. Finalizando, alertaremos aos críticos apressados em rotular a Psicanálise apenas como ideologia burguesa que é possível encontrar um certo caráter subversivo no pensamento freudiano. Se alguns dos aspectos aqui rapidamente abordados suscitarem debates e servirem de subsídios para pesquisas esse autor se dará por feliz e satisfeito.

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